
Era começo de outono. As folhas estavam a cair, mas aquela tarde no parque não me parecia nada mais do que um dia comum em que eu tirava uma hora ou outra entre as aulas de pintura para ler de baixo de alguma árvore.
Sentei perto de uma macieira e abri o meu exemplar de
Quincas Borbas(não leio por obrigação escolar,gosto de Machado de Assis mesmo).A leitura estava prazerosa,porém não me impediu de escutar o som de um violão ao longe.Até hoje não sei qual era a musica,só lembro de ter sentido uma necessidade enorme de saber de onde ela vinha.
Levantei e segui a procura da origem. Algumas arvores atrás, sentado no chão, havia um homem: cabelos negros ondulados na altura dos ombros,olhos da cor de meu puro,all star sujo,pulseiras nos braços.Não sei o seu nome,não sei a idade ou a profissão,isso foi o de menos para nós.Ali,a conexão era toda feita pelas notas emitidas pelo violão.
Aquela melodia, o simples dedilhar, tudo me fazia paralisar e pensar mil coisas ao mesmo tempo. A minha reação foi sentar ali, na frente daquele ser, e escutar o som emitido pelo brincar das cordas com os seus dedos.
Poderia ter perguntado,mas não poderia receber a culpa de parar aquela musica.Vaijei sentada na grama.Ele parecia notar o meu estado,pois começou acelerado e aos poucos as notas iam cada vez mais lentas(Ou será que eu estava ficando mais relaxada?Não sei.).
Em poucos minutos estava entorpecida, pensando no que eu realmente era, no que queria, nos meus sonhos. Vieram inúmeras imagens na minha cabeça, telas a serem pintados, projetos e amores a serem vividos, e aquele homem ali do meu lado, com o seu violão mágico. Não sei quanto tempo permaneci assim e quando eu comecei a dormir.
Acordei no crepúsculo, sem som ou pessoa ao meu redor. Fiquei a procura do meu músico encantador por algum tempo, não queria parar de escutar aquela musica, mas não o achei. A tristeza me abateu e por muitos dias fui ao mesmo local e na mesma hora à aquela árvore,com a esperança batendo no coração.Nunca mais o vi.
Hoje eu tenho duvidas se ele existiu fisicamente, ou se foi o vento frio e as folhas amarelas que mexeram comigo,mas tenho dentro de mim a certeza que real ou não,ele mudou a minha vida,e é incrível como isso pode ter acontecido por causa de uma única pessoa e um violão.
Esse ano será o quinto outono após o nosso primeiro e único encontro,mas de
20 de março a 20 de junho eu estarei comemorando a mudança que ele fez em mim.
Mah